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Manual do Terrorista

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Luta I

Desde que nasci, sempre soube que era diferente dos demais — no comportamento, na interação e na forma de reagir a estímulos externos. Ao perceber essas nuances, não me importei tanto, pois não imaginava que isso me prejudicaria no futuro. Meu desenvolvimento foi marcado por traumas, transtornos e saúde comprometida. Mas essa não é a pior parte. Eu ficava irritado, mas não dava tanta importância. Para mim, a vida sempre foi um lugar onde a dor é inevitável, sem escapatória. Por ser moldado assim, nunca dei muita importância ao sofrimento.

Vejo a vida como um lugar de constante competição, algo que é comprovado e observável na prática. Por não me deixar dominar e por não ser neurotípico, levo mais tempo para me adaptar à vida e suas nuances. Observações que fiz: a vida não é equilibrada. Você precisa escolher entre poucas opções disponíveis e dedicar o máximo de tempo e energia se quiser ter o melhor desempenho possível, destacando-se dos concorrentes.

Atualmente estou preso em um subemprego (trabalho de baixa remuneração e alta carga horária) e, para piorar, é longe de casa, o que consome boa parte do meu tempo. Considerando minhas condições financeiras, meu objetivo principal é sair da CLT. Tenho bastante tempo livre para planejar.

— Estou inscrito em um concurso de baixo perfil | ACS (Agente Comunitário de Saúde) Essa oportunidade me tiraria de um subemprego que me suga e consome minha energia, deixando-me cansado e impedindo-me de focar nos estudos ou em lazer. O problema é: a competição. Sinto-me frágil demais e incapaz.

O subemprego é algo tão ruim que não consigo descrever. Vejo pessoas com 28, 30, 40 e até 50 anos que têm algo em comum: passaram suas vidas inteiras ganhando pouco. Outra característica comum entre elas é uma personalidade difícil, com tendências a explorar colegas e fazer fofocas. Esse lugar me ensinou coisas importantes: tendemos a não valorizar nosso tempo livre. Eu não sou obrigado a ceder meu tempo a um patrão. Não sou obrigado a trabalhar — é uma troca completamente voluntária. Se fui contratado para exercer um cargo específico, estou me vendendo por aquele valor, um valor abaixo do esperado, pior que medíocre.

O maior choque de realidade que tive é que, se eu não fizer nada, ou vou acabar assim ou vou me destruir. Não me importo com relacionamentos amorosos — se for para viver essa vida, prefiro ficar sozinho. De agora em diante, vou me dedicar 70 horas por semana para passar nesse concurso. E se eu não passar, vou me demitir do trabalho e buscar algo melhor.